Artigos Izabele Kutz

Autovigilância

 

Vigiar, no dicionário, é estar atento a, estar acordado, velar, observar atentamente, espreitar, estar de sentinela. Autovigilância seria então estar atento a si, acordado, observando a si, como um sentinela de seus pensamentos e sentimentos.

Necessária para o domínio próprio, quem pratica a autovigilância tem enorme vantagens competitivas em relação a quem é controlado pelo impulso das emoções.

O trabalho é um dos espaços mais ricos para desenvolvermos a autovigilância, já que investimos grande parte de nossa vida lá. Pessoas diferentes, com jeitos de se comunicar diferentes, com valores diferentes, histórias de vida diversas, convivendo juntas lado a lado (e ainda com o desafio de alcançar objetivos comuns).

Num dia de trabalho experimentamos diversas emoções e o que fazemos com elas refletirá em nossas atitudes, ou seja nosso comportamento é determinado por como lidamos com as emoções.

O primeiro grande passo: consciência. Saber nomear o que estou sentindo naquele momento e por qual motivo.

A tão famosa Inteligência Emocional será requisitada, pois pensando num iceberg, a pequena ponta que vemos são as tarefas objetivas do cotidiano, os relatórios, as vendas, os projetos, etc., e o que está abaixo, submerso, são as tarefas subjetivas, nelas nossos sentimentos (como medo da incapacidade, os relacionamentos mal resolvidos, as comunicações truncadas, a ansiedade, etc)

Quando a tarefa subjetiva não é feita, ou seja, quando não tomamos consciência, nem lidamos com as emoções, a tarefa objetiva é imensamente prejudicada.

Escuto muitos líderes dizendo não entender porque aquele funcionário com grande potencial e que sabe tudo tecnicamente, não tem um desempenho correspondente.

A percepção do submerso é essencial não só para os lideres, mas a todos, precisamos entender nossas próprias tarefas subjetivas – o que estou pensando e sentindo, o que tem me impedido de concluir esta tarefa ou de me comunicar mais efetivamente com meu colega, será que ele me lembra meu irmão, que me irritava extremamente por ter toda a atenção que eu queria? Estou expressando minhas ideias sobre aquele projeto, ou estou engolindo sapo por medo de desagradar alguém, ou tenho me estressado pela minha incapacidade de dizer não e deixar de ser o bonzinho?

Só consigo saber isso se estou vigilante, acordado, na espreita para perceber meus pensamentos mais sutis e observar o quanto eles alimentam minhas emoções. Se estou vigilante consigo adequar o rumo de minhas emoções, questionando se estou pensando em fatos e dados ou em hipóteses e inferências, verificando se aquela emoção está proporcional ao que está ocorrendo ou se estou exagerando, levado por meus pensamentos irracionais.

Vigiai pois!